quarta-feira, 25 de janeiro de 2012

CRISE NA KODAK – SERÁ QUE ELA PERMANECE OU DESAPARECE?

Por Artur Reis


Introdução
O mundo inteiro especula sobre o futuro da Kodak. Como pode uma empresa centenária, dona de uma marca que é quase sinônimo de câmera fotográfica chegar a um ponto onde tenha que pedir concordata para tentar sobreviver ao caos que lhe consome?
Muitos já prevêem o desaparecimento da empresa e da marca. Outros acham que a Kodak nunca mais conseguirá se reerguer.
Este caso merece algumas reflexões. 

Valor da Marca
Em 2001 a Interbrand publicava a lista das 100 marcas mais valiosas (TOP 100 Brands) na qual a Kodak aparecia na 27ª posição com valor de US$ 10,801 bilhões.
Desde então a marca Kodak passou a registrar uma contínua queda de valor na lista da Interbrand publicada anualmente. Em 2006 a Kodak já se situava na 70ª posição valendo US$ 4,406 bilhões, porém caindo para 82ª posição em 2007, com valor de US$ 3,874. A partir daí a marca Kodak saiu do ranking das marcas mais valiosas da Interbrand.

Concordata
A Kodak entrou com um pedido de Concordata nos EUA, com o objetivo de implementar um plano de reorganização de suas atividades. Paralelamente obteve um empréstimo junto ao Citigroup no valor de US$ 950 milhões para financiar a continuidade de suas operações.

Vide abaixo matéria do Globo de 19/1/2012:

19/01/2012 05h12 - Atualizado em 19/01/2012 13h35
Kodak pede concordata nos EUA
Empresa solicitou proteção judicial para reorganizar seus negócios.
Kodak foi fundada em 1888 com sede em Rochester, Nova York.
Do G1, com agências *
22 comentários
A centenária companhia fotográfica Eastman Kodak apresentou perante um tribunal de Nova York um pedido de concordata para reorganizar seus negócios. A informação foi divulgada pela própria empresa, nesta quinta-feira (19), por meio de comunicado. "A companhia e suas subsidiárias nos EUA entram com pedido voluntário de 'proteção' ao Capítulo 11 da Lei de Falências dos Estados Unidos", afirmou em nota.
A Kodak pediu concordata depois de não ter conseguido captar dinheiro para financiar uma recuperação financeira de longo prazo. Com o pedido, a empresa pretende reforçar a liquidez nos Estados Unidos e no exterior, rentabilizar a propriedade intelectual não estratégica, solucionar a situação dos passivos e concentrar-se nos negócios mais competitivos.




















No fim dos anos 20, imagem de arquivo mostra o fundador da Eastman Kodak, George Eastman, à esquerda, ao lado de Thomas Edison, ambos com suas invenções. Edison inventou o equipamento para projeção de imagens em movimento e Kodak inventou o filme de rolo e a câmera de caixa, que ajudaram a criar a indústria do cinema. (Foto: AP Photo)

Estratégia
Pioneira dos processos fotográficos, a Kodak foi fundada em 1888 com sede em Rochester (Nova York). Há décadas, porém, a empresa luta para lidar com a concorrência emergente no segmento fotográfico, o que se acentuou com o surgimento da tecnologia digital.
Sua cartada final - uma tentativa de se transformar em uma empresa que vende impressoras - revelou-se algo demasiadamente caro em meio às vendas em declínio do filme fotográfico e às caras obrigações pagas aos funcionários aposentados.
O pedido de concordata é um revés para o presidente executivo, o espanhol Antonio Perez, que assumiu o cargo de executivo-chefe da Kodak em 2005. Ele havia trabalhado por 25 anos na Hewlett-Packard Co., ajudando a contabilizar mais de US$ 7 bilhões em valor de mercado para a HP. Na Kodak, contudo, não conseguiu repetir o feito.
Incertezas sobre a estratégia utilizada por Perez para tentar levantar o setor de impressoras da empresa levanta questões sobre o destino dos cerca de 19 mil funcionários da companhia. A operação também representa riscos para os aposentados da Kodak, dando margens à possibilidade de a empresa tentar fugir de suas obrigações sobre as pensões e a assistência médica dos trabalhadores perante o Tribunal.

Financiamento
A empresa disse que obteve US$ 950 milhões em financiamento do Citigroup e que continuará a operar seus negócios. "A recuperação econômica da empresa visa impulsionar a liquidez nos EUA e no exterior, obter capital não estratégico proveniente de propriedade intelectual, equacionar os passivos herdados e permitir que a empresa se concentre em suas linhas de negócios mais valiosos", disse o comunicado emitido pela Kodak.

 Na foto de setembro de 2008, slides antigos do filme Kodachrome são exibidos em Clarence, N.Y. (Foto: AP Photo)

Lei de falências nos EUA
saiba mais
O Capítulo 11 da lei de falências americana (Bankrutpcty Code) permite a uma empresa com dificuldades financeiras continuar funcionando normalmente, dando-lhe um tempo para chegar a um acordo com seus credores.
Para tanto, a empresa precisa entrar com uma petição junto a uma corte do país. A discussão sobre o termo se dá porque esse documento é chamado "bankrutpcy petition". A legislação americana define "bankruptcy" como "procedimento legal para lidar com problemas de dívidas de indivíduos e empresas". Sua tradução para o português, no entanto, é "bancarrota" – termo que equivale à falência da empresa. Ao arquivar a petição, no entanto, a empresa entra em um processo que se assemelha mais, no Brasil, à recuperação judicial (veja abaixo como funciona a lei brasileira).
A proteção do Capítulo 11 pode ser requerida seja pela empresa em dificuldades, seja por um de seus credores. Este procedimento significa uma vontade de reestruturação da companhia, sob o controle de um tribunal.
Foto de 6 de janeiro mostra um dos muitos estacionamentos para funcionários da Kodak que estão vazios em Rochester, N.Y. (Foto: AP Photo)

O Capítulo 11 permite ao devedor manter todos seus ativos, se opor às demandas de seus credores, adiar os prazos de seus pagamentos e até reduzir unilateralmente sua dívida. Em contrapartida, obriga a empresa que se coloca sob sua proteção a dar ao juiz das falências informações detalhadas sobre o andamento das transações sobre seus credores.
A companhia que solicita esta proteção também deve preparar sua demanda da forma mais detalhada possível para informar devidamente o juiz e seus credores de sua real situação financeira.
Se as transações transcorrem bem, a empresa consegue do juiz e dos credores um plano de reorganização dentro de um prazo de até vários meses. Trata-se de um contrato que estipula a forma como a companhia vai pagar suas dívidas e de onde virá o dinheiro que servirá para este fim.
Imagem registrada em 5 de janeiro deste ano mostra o memorial George Eastman, onde estão as cinzas do fundador da Kodak. (Foto: AP Photo)

Lei de falências no Brasil
No Brasil, a lei 11.101, mais conhecida como Lei de Falências e Recuperação de Empresas (LFRE), sancionada em 9 de fevereiro de 2005 pelo Presidência da República, regula a recuperação judicial, a extrajudicial e a falência do empresário e da sociedade.
A recuperação judicial é abordada no capítulo três da lei, que explica que “tem por objetivo viabilizar a superação da situação de crise econômico-financeira do devedor, a fim de permitir a manutenção da fonte produtora, do emprego dos trabalhadores e dos interesses dos credores, promovendo, assim, a preservação da empresa, sua função social e o estímulo à atividade econômica”.
O advogado Eduardo Henrique Vieria Barros, da ERS Consultoria, escritório especializado em recuperação judicial, explica que a lei de 2005 acabou com o instrumento da "concordata" no Brasil. A nova legislação, comenta o advogado, permite que a empresa endividada apresente a sua própria proposta para os credores.
“A recuperação judicial é um avanço, pois é um processo baseado na negociação e permite que credores e devedores apresentem as condições que acreditam ser razoáveis”, diz Barros.
A legislação fixa um prazo de seis meses para a negociação entre as partes, que é intermediada por um administrador judicial nomeado pela Justiça. No caso de não haver acordo entre credores e devedores sobre o plano de recuperação, é decretada a falência.
O capítulo cinco da lei é o que diz respeito à falência. De acordo com ele, “ao promover o afastamento do devedor de suas atividades, visa a preservar e otimizar a utilização produtiva dos bens, ativos e recursos produtivos, inclusive os intangíveis, da empresa”.
Segundo o texto, “a decretação da falência determina o vencimento antecipado das dívidas do devedor e dos sócios”, e as partes responsáveis “serão representadas na falência por seus administradores ou liquidantes, os quais terão os mesmos direitos e, sob as mesmas penas, ficarão sujeitos às obrigações que cabem ao falido”.
(*com informações da Efe e Agência Estado)

Fonte:
http://g1.globo.com/economia/noticia/2012/01/kodak-pede-concordata-nos-eua.html

Futuro da Kodak
É impossível prever o futuro da Kodak dentro de um horizonte de longo prazo, mas podemos fazer algumas considerações baseadas numa análise histórica da empresa e nos fatos atuais apresentados.
Todos nós concordamos que o principal erro estratégico da Kodak foi sua demora na entrada no mercado digital. Em 1975 a Kodak apresentou o primeiro protótipo de uma câmera sem filmes, baseada no sensor CCD da Fairchild. Esse equipamento com 4 quilos podia gravar, a cada 23 segundos, imagens de apenas 0,01 megapixels numa fita K-7.  A Kodak preferiu retardar a entrada no mercado de tecnologia digital para não arriscar o seu negócio de fotografia tradicional.
“Apesar do pioneirismo da Kodak e da Fairchild, quem daria às câmeras sem filme (ainda não digitais) o status de produto de consumo seria a Sony, que em 1981 anunciaria sua primeira Mavica, com preço estimado em US$ 12 mil. O protótipo, de 0,3 megapixels, armazenava até 50 fotos coloridas nos inovadores Mavipaks, disquetes de 2 polegadas precursores dos de 3½ atuais, também inventados pela Sony. Suas imagens, entretanto, eram similares às imagens televisivas estáticas.”
Fonte: Forum Mundo Fotográfico: 

Quando a Kodak resolveu investir agressivamente no mercado digital, outros fabricantes já estavam adiantados na conquista desse novo segmento.
Houve também um equívoco quanto ao posicionamento da Kodak em optar por investir no mercado de câmeras digitais com apelo profissional, já que em sua trajetória, seus produtos sempre tiveram como atributos: facilidade, praticidade e conveniência, com preços acessíveis. 
Mais uma vez a Kodak teve que mudar a sua estratégia de desenvolvimento de produtos.
Sua forma de atuação no varejo através das lojas de revelação de filmes e impressão de fotografias tradicionais também teve que ser repensada, embora tardiamente, em função da mudança do mercado para a era da impressão digital. 

O Momento Atual
Por outro lado, além do mercado consumidor, muita gente não sabe que a Kodak tem uma forte atuação em outros negócios como: tecnologia na fabricação de máquinas para impressão de jornais, livros, revistas e demais documentos, produção de embalagens, produção de materiais para laboratório profissional, produção de filmes para cinema, etc.  

Segundo informações recebidas de fonte confiável, as operações de sua subsidiária no Brasil têm sido lucrativa e não estão previstos cortes de investimentos em função da crise nos EUA.

Apesar da queda no valor, a marca KODAK continua a ser, talvez, a marca mais conhecida e lembrada, como fabricante de câmeras fotográficas. Isso significa que, mesmo que as ações e o comando da empresa possam mudar de mãos, suas operações devem continuar operando, lançando produtos e desenvolvendo negócios em todo o mundo. Obviamente é necessário um freio de arrumação para se desfazer de negócios que não geram rentabilidade e que não fazem parte do core business. A Kodak possui muitas patentes que podem se transformar em produtos e negócios.
O momento atual é de reorganização e reestruturação de negócios, para ganhar confiança do mercado e tentar aumentar o valor das ações. Muitas empresas já passaram por grandes reestruturações e hoje continuam atuando em negócios diversificados com crescimento e rentabilidade. Podemos citar como exemplo, os casos da IBM, da Xerox e da HP.
  
E falando em ações, existe uma regra que diz: para se ganhar dinheiro com ações é preciso comprar no período de baixa e vender no período de alta. As ações da Kodak atingiram o patamar mínimo de 30 centavos de dólar.
Você arriscaria comprar ações da Kodak neste momento?



2 comentários:

  1. Muito interessantes. As matérias e os comentários.
    A partir do que foi colocado, acredito que a Kodak tem grandes chances de conseguir equacionar os seus problemas financeiros e voltar sadia ao mercado.
    Ao que parece, a legislação americana é muito eficiente no que tange a propiciar as melhores condições possíveis para que a empresa consiga se recuperar.
    Quanto a comprar ações da Kodak hoje, não sei, mas acredito que seja importante acompanhar as medidas adotadas pela empresa para alcançar a recuperação. Talvez daqui a pouco tempo já esteja valendo arriscar a compra de ações.

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    1. Obrigado pelo comentário. Em relação a recuperação da KODAK, acredito também, que o sistema financeiro americano oferece, opoprtunidades para que ela possa planejar o seu equilíbrio, porém tendo que fazer o dever de casa. Isso implica numa revisão geral de sua estutura e processos, foco nos produtos mais rentáveis, sem perder a visão de longo prazo no mercado. Eu também esperaria um pouco mais para arriscar na compra de ações. Sabendo, contudo, que quando a recuperação começar a mostrar resultados, com certeza o valor das ações será mais elevado. Mas, isso é o preço pela redução do risco. Abraços.

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