Por Artur Reis
Fonte: Good Light |
A comunicação é um dos principais fatores que estão por trás do sucesso ou do fracasso nas relações humanas. A comunicação eficaz pode selar acordos, fechar parcerias, proporcionar aquisições, gerar lucros, promover casamentos, etc. Mas, quando a comunicação não consegue cumprir o seu papel, os problemas podem ser catastróficos.
Em muitas empresas, a Comunicação é relegada ao segundo plano, não sendo cuidada de maneira profissional. Em muitos casos, a comunicação empresarial acaba ficando nas mãos de pessoas não especializadas.
Sem querer entrar muito nos conceitos teóricos sobre Comunicação Empresarial, nesta postagem quero apenas mostrar um leve e divertido caso de um problema de comunicação, ocorrido numa empresa nacional em tempos passados.
Poucos conhecen este "causo", mas tenho usado nas aulas como forma de ilustrar a "comunicação ineficaz". O "causo" foi extraído do Livro de Leopoldo Alves, com pequenas adequações para a nossa época. É interessante ver como as pessoas se comunicavam em meados do século passado, sem celular e internet.
Leiam até o final e riam bastante!!!!
O Causo -
extraído do Livro: Histórias e Estórias do Caixeiro Viajante – Leopoldo Alves (Introdução
de Jorge Amado).
Mas, vamos
deixar de lado, um pouco da época moderna e voltar ao tempo em que não
existia internet. Telefone, só em poucos lugares. Celular, então nem pensar!
Vamos voltar
ao período no Brasil, em que o meio mais rápido de se comunicar com alguém, era
o telegrama. Aqueles, que não eram nascidos naquele tempo e nunca sequer
ouviram falar em Western, é bom esclarecer que telegrama era uma mensagem
enviada por uma pessoa a outra, através de Código Morse. A pessoa enviava uma mensagem por escrito,
que era codificada em sinais sonoros e transmitidas através de cabo. Prestem
atenção ao significado da expressão PT, que não representava o Partido de Lula
e sim PONTO. E o termo VG, que significava vírgula na linguagem telegráfica.
Por economia, se omitia grande parte dos artigos nas frases.
Nos primeiros anos pós-guerra, O Brasil vivia tempos promissores e de
grandes realizações, como a tão esperada conclusão da Rodovia ligando o
CENTRO-SUL com o Norte e Nordeste brasileiro, as estradas de ferro sendo
renovadas e aviação comercial ressurgindo das cinzas, ampliando a penetração
nos vários estados do Brasil.
A abertura da
nova estrada proporcionou o surgimento de várias comunidades, abriu as portas
para que várias outras localidades pudessem ser atingidas e interligadas.
As indústrias
de tecidos, as fábricas de bens de consumo, que antes só vendiam aos grandes
fregueses das capitais, os chamados atacadistas, descobriram um novo filão, um
novo mercado para seus produtos e invadiram a zona interiorana.
As grandes
firmas e empresas abriram suas filiais, instalaram modernos escritórios e
recheados depósitos de mercadorias nas principais cidades do país. Com a
abertura das sucursais, havia necessidade de penetrar pelo interior a dentro e
a abrir novas praças.
Naquele tempo
de transformações, uma nova expressão passou a ser ouvida com freqüência e
insistência na roda dos viajantes, a palavra prospecção, que não possuía outro
significado senão o de fazer sondagens, realizar averiguações a procura de
fregueses, novos pontos de vendas, etc.
Um
laboratório farmacêutico querendo expandir a sua atuação no mercado,
especialmente num canal em franco crescimento, o de farmácias, selecionou um vendedor para fazer uma
prospecção em Santa Terezinha. O vendedor era um elemento bem humorado, de
estatura mediana, com uma certa protuberância na barriga, tinha calvície
prematura, nariz pontiagudo e era vermelho, como camarão. Seu nome era
Pitágoras, mas devido a sua epiderme avermelhada, passou a ser apelidado de
Pitágoras Manga Rosa.
Pitágoras
partiu para a sua desafiante tarefa, permanecendo numa misteriosa mudez. Após
duas semanas de silêncio total, desde que havia saído de Salvador, Pitágoras
não havia dado qualquer sinal de vida ao Gerente da Filial. Este, preocupado
com o sumiço do viajante, mandou-lhe um telegrama em caráter de urgência com os
seguintes dizeres:
- ESTAMOS
ANSIOSOS NOTÍCIAS pt FAVOR INFORMAR SITUAÇÃO PRAÇA
Pitágoras ao
receber o telegrama, respondeu prontamente:
- PRAÇA AQUI
ESTÁ NO FIM pt PREFEITO LOCAL NADA REALIZA pt
BANCOS JARDINS TOTALMENTE DANIFICADOS E CAPIM JÁ TOMOU CONTA DE TUDO
O Gerente, ao
receber a resposta, percebeu, ou pelo menos pressupôs, que Pitágoras havia
interpretado o telegrama erroneamente, ficando bastante desapontado. E expediu
logo outra mensagem:
- NÃO NOS
REFERIMOS PRAÇA LOGRADOURO PÚBLICO pt NOSSO DESEJO É SABER NOTÍCIAS MERCADO
LOCAL
Pitágoras, de
posse do novo telegrama, passou de julgado a julgador, pensou que o seu Gerente
não havia entendido a sua explicação e respondeu laconicamente:
- MERCADO
LOCAL ESTÁ PIOR QUE A PRAÇA pt TELHADO JÁ DESABOU E BARRAQUEIROS ABANDONARAM
LOCAL
Neste
momento, fazendo força para controlar a sua fúria, pois não podia entender
tanta desconexão, o Gerente da Filial mandou expedir a terceira mensagem, uma
mensagem que ele achava bastante elucidativa:
- REFERÊNCIA
NOSSOS ÚLTIMOS TELEGRAMAS vg ESCLARECEMOS-LHE QUE NÃO DESEJAMOS SABER SITUAÇÃO
PRAÇA LOGRADOURO E NEM SITUAÇÃO MERCADO PÚBLICO MUNICIPAL pt NÓS QUEREMOS SABER
É SITUAÇÃO GERAL DA ZONA
Ao receber o
telegrama, Pitágoras sorriu largamente. Naquele assunto que o Gerente se
reportara, ele era mestre, ninguém melhor do que ele poderia prestar as
informações solicitadas. Foi até o telégrafo, respondeu a mensagem de maneira
catedrática:
- ZONA AQUI É
O FINO pt ONTEM CHEGARAM VINTE GAROTAS DE SALVADOR PARA INAUGURAÇÃO NOVO CABARÉ
pt CONVITE FEITO AO SIGNATÁRIO É EXTENSIVO A ESSA GERÊNCIA pt FICO AGUARDANDO
INTRUÇÕES SOBRE A VINDA GERENTE PARA PRESTIGIAR A REFERIDA INAUGURAÇÃO.
E as
instruções chegaram mais rápido do que e-mail, com um texto desta vez muito
conciso:
- REGRESSE
URGENTE COM BAGAGEM E TUDO MAIS
Na gíria dos
viajantes da época, telegramas com aquele tipo de redação significava demissão
à vista. Mas o Pitágoras, felizmente, não foi demitido. Continuou no
laboratório vendendo horrores, contribuindo para ampliar o prestígio da Filial,
ante os olhos críticos da Matriz.
Mas de
qualquer maneira, nunca mais lhe deram a incumbência de fazer uma prospecção.
Também pudera!