sábado, 7 de julho de 2012

GESTÃO DE CRISE DE IMAGEM – O CASO MUÇÃO (LIÇÕES E ACERTOS)


Por Artur Reis



Introdução
Preso na quinta-feira da semana passada (28/06) em Fortaleza, o radialista e humorista Rodrigo Vieira Emerenciano, nacionalmente conhecido como Mução, acusado por divulgação de pornografia infantil pela internet.
Vide:  NE10  e Tribuna do Norte

Essa notícia, amplamente divulgada nos diversos meios de comunicação, tornou-se um dos assuntos mais comentados nos Twitters. Vide: NE10

Por si só, esse caso tinha todos os ingredientes para se transformar numa crise de grandes proporções. Motivos principais:
  • O acusado é uma pessoa pública e altamente conhecida. Seu programa “A Hora do Mução é líder de audiência nas rádios e ouvido por milhões de pessoas em todo o Brasil. Vide: Info.abril
  • Suas pegadinhas (principal diferencial do programa na rádio) chegam a atingir mais de dois milhões de acessos no youtube.    
  • Pornografia infantil e pedofilia, motivos da prisão, são crimes abomináveis na visão da opinião pública (algo que as pessoas não perdoam).

Pegadinha no Youtube

Análise
Embora todos nós acreditemos na seriedade e na eficácia das investigações da Polícia Federal, ao ser preso, com seu nome estampado nas manchetes dos jornais, a sentença de Mução estava praticamente lavrada antes mesmo de ser julgado. Afinal, as acusações que pesavam contra ele eram graves e muito difíceis de serem revertidas publicamente. No dia em que a notícia foi divulgada, muita gente já o condenava, acreditando piamente em sua culpa.

Em conversas com amigos, o meu prognóstico inicial sobre o desfecho do caso era sombrio, pois esse tsunami estava apenas começando. Mesmo que fosse inocente, quando a notícia ganhasse força e se desdobrasse em novas revelações, a carreira do Mução estaria praticamente acabada. Pela minha experiência, sabia que, qualquer novo fato que fosse revelado contra o radialista, seria quase impossível impedir a formação de uma opinião pública negativa, que já estava praticamente forjada desde o início. 

Nesses tipos de casos, o suspeito é praticamente culpado, mesmo sem ter o julgamento adequado. E mesmo, ao ser inocentado após meses ou anos de processo, a imprensa raramente dá o destaque à notícia de sua absolvição, com a mesma ênfase e intensidade que a notícia de sua prisão.

A imagem do Mução estava por um fio já no primeiro dia de noticiário, mas o rumo das investigações mudou completamente com a confissão do irmão. E a partir desse fato, a gestão da crise se mostrou eficaz.

Aproveito então esse momento ainda recente desde a primeira notícia divulgada sobre a prisão do Mução, para fazer algumas considerações sobre esse caso. O objetivo dessa reflexão é tirar lições e aprendizados que podem nos ajudar a entender melhor como gerenciar a imagem em tempos de crise.
Sendo assim, seguem abaixo os comentários e a análise feita sobre o que ocorreu em cada etapa da Crise:

1ª Fase – A notícia – Desde a divulgação inicial da prisão do Mução, o advogado aceitou a existência do crime, mas garantiu categoricamente a inocência de seu cliente. Tudo não passava de um grande equívoco e iria ser esclarecido, pois segundo ele, alguém teria acessado e usado o computador do Mução para cometer os crimes denunciados. Vide: NE10  e Diário do NE 

Comentários:
  1. Não se assume a existência de um crime ou de culpa, se não há evidências comprovadas - a Polícia Federal tinha provas e não havia como negar.
  2. Não se joga a culpa em outra pessoa, a não ser que haja uma forte convicção da inocência do acusado. A comprovação da culpa no decorrer do processo poderia desgastar mais ainda a imagem do Mução. Quando a pessoa tem realmente culpa no cartório é muito melhor que assuma logo essa culpa, passando a pedir perdão pelos danos e arcando com as conseqüências ou prejuízos dos erros.
2ª Fase – Agilidade na resposta - A pronta e ágil ajuda do advogado e da família do Mução à polícia federal no esclarecimento da inocência do Mução facilitou o desfecho favorável e a reversão da situação de crise.

Comentários
  1. Se o advogado e o Mução sabiam ou mesmo suspeitavam que seu irmão seria o culpado, tinham que agir rapidamente - a cada segundo que passava mais difícil se tornava a situação do Mução. Neste caso, tudo foi rapidamente esclarecido, pois coincidência ou não, o irmão confessou rapidamente a culpa.
  2. Parece claro que o irmão tenha recebido orientação para assumir logo a culpa – pois já que não houve flagrante, poderia responder em liberdade, inocentando de imediato Mução. A permanência de Mução na prisão implicaria em altas perdas financeiras, o que provavelmente atrapalharia mais ainda a possibilidade de ajudar seu irmão, o verdadeiro culpado. Vide: JConline 
3ª Fase – Libertação do Mução – Mução é libertado já no sábado, dois dias depois da prisão. Vide:  Estadão

Comentários:
  1. A notícia de sua rápida liberação e da confissão do irmão travou o tsunami de notícias negativas que iram continuar se alastrando. Sorte ou astúcia na gestão da crise, esse fato mudou o rumo dos acontecimentos. Vide: R7 Notícias 
  2. Mução soube preservar sua imagem e não fez grande alarde de sua libertação - chegou a demonstrar tristeza pela notícia da confissão do irmão.
  3. Com Mução fora do foco da notícia, o tsunami perdeu força e virou marola – as notícias rapidamente desapareceram do assunto principal – graças à inocência anunciada pela própria Polícia Federal, a imagem negativa do Mução não chegou a atingir toda a opinião pública. Os próprios fãs passaram a divulgar a sua inocência nas redes sociais.
4ª Fase – De volta ao normal – A retomada do programa do Mução e seu esclarecimento oficial sobre o assunto colocaram uma pedra de cal no funeral dessa crise. Vide: G1 Globo 

Comentário:
1.    Mução faz piada sobre sua prisão – com seu estilo de humor “escrachado”, Mução mostra firmeza e garante a normalidade do seu programa, apagando de vez o incêndio que se propagou sobre sua credibilidade. A crise é debelada. Vide: G1 Globo


Conclusão
A crise do Mução foi contornada e revertida ainda nos estágios iniciais, diferentemente do que ocorreu com os donos da Escola de Base em 1994, após serem acusados de abuso sexual contra menores. Estes perderam tudo, faliram e tiveram suas vidas prejudicadas de forma irreversível. Sorte ou competência, a gestão da crise no caso Mução foi muito bem conduzida e nos deixa lições importantes para o processo de gerenciamento de imagem pessoal e empresarial.
Leia mais notícias sobre a Escola de Base: Terra Notícias   Documentário Catraca Livre
  
Embora a Crise tenha sido contida e controlada, não é possível evitar arranhões à imagem de uma pessoa, quando é submetida a uma situação de exposição pública negativa tão intensa.

Para ilustrar essa afirmação, fiz hoje um levantamento do caso Mução, através do mecanismo de busca do "Google",  para identificar a quantidade de menções registradas na internet de forma generalizada, tanto para a "prisão ou culpa", como também para a "libertação ou inocência" do radialista. Veja na tabela abaixo:


Acessos registrados no Google 07/07/12 às 09h22min
Forma de Busca
Nº de Menções
Somatório
“Mução preso”
8.220
1.741.720
“Mução é preso”
1.000.000
“mução” “preso”
695.000
“Mução” “culpado”
38.500
“Mução libertado”
13.700
818.400
“Mução é solto”
237.000
“Mução liberado”
200.000
“Mução é liberado”
328.000
“Mução” “inocente”
39.700


Na forma de busca, procurei levantar quantas matérias, menções ou registros foram contabilizados pelo Google, tanto em favor como contra Mução. Como se pode verificar na tabela, embora os acessos por forma de busca não devam ser somados, pois pode haver redundância (menções que aparecem repetidas), a quantidade de menções que vinculam a imagem do Mução com sua prisão e culpa atingiram até hoje 1.741.720. Já a quantidade de menções e registros que vinculam sua imagem a libertação e inocência atingiram apenas 818.400. A razão para isso deve-se ao interesse que fatos negativos, tragédias, escândalos exercem sobre as pessoas. Dentre os registros e menções que aparecem no Google, podem estar incluídos: matérias em jornais, portais, websites, blogs, textos e documentos disponíveis, conversas em redes sociais, etc.


Sabemos que o tempo é o melhor remédio para o esquecimento. Nada melhor que uma nova crise na mídia para apagar a crise atual. Na minha opinião, o que deveria ser feito nesse caso para controlar e reverter a Crise Mução foi muito bem executado. Embora tudo seja muito recente, em menos de dez dias a onda de notícias foi estancada. Caso não haja nenhum fato novo que mude os acontecimentos revelados, Mução está livre da prisão e dessa Crise.

2 comentários:

  1. Amigos, postei no Blog uma breve análise sobre a Crise de Imagem ocorrida no Caso Mução (humorista e radialista). Conto com o apoio de vocês, através da participação na enquete do Blog, que visa avaliar a percepção da opinião pública sobre à inocência ou não do radialista nesse caso. Grato. Artur Reis

    ResponderExcluir
  2. Excelente explanação, ótima abordagem técnica e muito feliz por ter se valido de um caso emblemático...
    E o fez tão rapidamente como a própria condução jurídica de defesa do conhecido acusado...😁
    Abs

    ResponderExcluir